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domingo, 17 de abril de 2011

Há dez anos, o rock and roll ficava menos pesado sem Joey Ramone



"One, two, three, four!" A contagem, primeiro com Dee Dee depois com CJ, era uma espécie de "Abre-te, Sésamo" para quem gostava do verdeiro rock and roll. Ela dava início a um jorro de guitarra, versos rápidos e absurdos além de, sobretudo, a voz rouca e surpreendentemente agressiva de Joey Ramone, líder e vocalista dos Ramones. Voz que, num dia 15 como este há dez anos, silenciou para sempre. E como sempre acontece na arte, morria o homem e nascia o mito.

Mito que era tão próximo a nós, míseros mortais, como qualquer outro: tinha defeitos, manias e até um transtorno obsessivo compulsivo que o perseguiu a vida inteira e sempre o incomodava - e aos que o acompanhavam. Todo esse turbilhão foi abatido por um linfoma, que já o perseguia desde meados da década de 1990.
CULTURA16:59:26
MÚSICA
Há dez anos, o rock and roll ficava menos pesado sem Joey Ramone
Publicado em 15.04.2011, às 15h45

Wladmir Paulino
Do NE10


Joey sucumbiu a um linfoma em 15 de abril de 2001
Foto: Divulgação

"One, two, three, four!" A contagem, primeiro com Dee Dee depois com CJ, era uma espécie de "Abre-te, Sésamo" para quem gostava do verdeiro rock and roll. Ela dava início a um jorro de guitarra, versos rápidos e absurdos além de, sobretudo, a voz rouca e surpreendentemente agressiva de Joey Ramone, líder e vocalista dos Ramones. Voz que, num dia 15 como este há dez anos, silenciou para sempre. E como sempre acontece na arte, morria o homem e nascia o mito.

Mito que era tão próximo a nós, míseros mortais, como qualquer outro: tinha defeitos, manias e até um transtorno obsessivo compulsivo que o perseguiu a vida inteira e sempre o incomodava - e aos que o acompanhavam. Todo esse turbilhão foi abatido por um linfoma, que já o perseguia desde meados da década de 1990.




INFLUÊNCIA- Personalidade complicada do cantor era fruto de uma série de fatores. Em primeiro lugar, sua vida familiar. Os pais se divorciaram no início da década de 1960, quando ele ainda era criança - nasceu em 19 de maio de 1951. Foi criado pela mãe junto com seu irmão mais novo, Mitchell.

Como acontece com alguns filhos de pais separados, Joey, que na certidão de nascimento atendia por Jeffrey Ross Hyman, desenvolveu um temperamento tímido e retraído, aliados a sua chamativa figura: era alto (2,02m), magro e com uma enorme cabeleira negra cobrindo o rosto. E foi justamente a música a válvula de escape encontrada para dar vazão aos seus impulsos e desejos. Ele começou cantando numa banda de glam, o Sniper.

Com os Ramones, começou a tocar em 1974, na companhia de Johnny (John Cummings), o já citado Dee Dee (Douglas Colvin) e Tommy (Thomas Ederly). Nos 22 anos de atividade teve que conviver não apenas com seus problemas psicológicos como também com o fato de ver seu grande amor ter sido surrupiado pelo próprio colega de banda.

Linda começou a namorar com Joey mas o guitarrista entrou na jogada de forma agressiva e levou a melhor. Tanto que permaneceram casados até a morte de Johnny, em 2004. O vocalista encontrou a melhor forma de desabafar na música The KKK took my baby away (A Klu Klux Klan levou minha garota embora). A metáfora da Klu Klux Klan, uma organização de extrema direita, encaixava-se perfeitamente em Johnny, um entusiasta ferrenho do Partido Republicano.
NFLUÊNCIA - Os Ramones surgiram numa época em que o rock mais básico havia ficado para trás. Quem dava as cartas eram as super-produções como Pink Floyd. O próprio Joey, irritado com o som que se ouvia na época, disse anos depois: "Quando começamos os discos de rock tinham uma música de cada lado, cheias de solos de guitarra e teclados insuportáveis. Nós trouxemos a energia de volta ao rock and roll". O nome Ramones surgiu pelo pseudônimo adotado por Paul McCartney para responder às cartas dos amigos no auge do sucesso dos Beatles. Ele assinava Paul Ramon.

A pouca técnica dos músicos também influenciou bastante o som, calcado principalmente nos primeiros roqueiros dos anos 1950 e Rolling Stones. Técnica pouca mas legado eterno. Costuma-se dizer que tudo que se fez depois do surgimento dos cabeludos novaiorquinos tem o DNA deles. O som dos punks é herdeiro direto da banda: Clash, Sex Pistols, Danmed, The Jam. Além de todo hardcore. Algumas das canções tinham apenas dois acordes e um verso (I Don't Wanna Walk Around With You).

As letras eram aparentemente infantis e repetitivas, mas espelhavam bem a personalidade de seus compositores. Além dos já citados romantismo e traços neuróticos de Joey, eram flagrantes os ambientes barra-pesada frequentados pelo baixista Dee Dee, como na música 53rd & 3rd, esquina onde ele fazia ponto como michê. Ou violência (Beat On The Brat). Problemas com a família (We´re a Happy Family).

Tanta influência não se refletiu em sucesso comercial. Popular entre músicos, os Ramones não repetiram o feito entre o público. A última tentativa foi com o álbum End Of The Century, de 1980. Produzido pelo lendário Phill Spector, não vendeu muito e os quatro músicos viram-se fadados às turnês pequenas, sem seguranças, jato particular e adjacências. Talvez por isso, Joey e Johnny sentiam-se obrigados a conviver lado a lado, pois não havia outra forma de sobrevivência.

As únicas exceções eram Brasil e Argentina. Quando aterrisavam nos dois países, os Ramones eram recebidos por multidões histéricas com direito a tudo que uma grande banda tem, incluindo confusões em shows, quebra-quebra - como aconteceu no Canecão em 1989 - e fãs atirando-se sobre o carro onde os músicos estavam. "Quando souberam que encerraríamos a carreira houve uma boataria de suicídio coletivo na Argentina", lembrou Joey numa entrevista pouco antes do último show, em 16 de julho de 1996.

Em 2003, Johnny juntou-se ao cantor Rob Zombie para gravar um tributo ao quarteto. Foi lançado a coletânea "We´re a Happy Family - A tribute to Ramones". Entre outros, Metallica, Kiss, U2 e Red Hot Chilli Peppers prestam homenagem. Um ano depois, eles foram incluídos no Rock and Roll Hall of Fame.

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